quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Os Chineses

Até podia ter outro título, mas como vem depois dos alemães…

Uma semana à espera de conseguir combustível. Primeiro não havia mesmo combustível. Chega já amanhã. O já amanhã prolongou-se por dois dias. Porque o camião de combustível avariou no caminho e tal e tal… Já vem outro a caminho e amanhã já vai haver. Este outro camião não avariou mas também este amanhã demorou dois dias a chegar. Quando finalmente chegou o combustível faltou a energia. Haveria ainda a possibilidade de abastecer nas outras bombas que funcionam com gerador se o gerador não estivesse avariado…

No dia 8 de Dezembro estavam reunidas todas as condições. Havia energia eléctrica e combustível com fartura. Só não havia motorista para o carro e tive que ser eu a ir à vila em busca do indispensável combustível para manter a unidade em funcionamento. Depois de ter saído da vila às 4 da manhã regressei, já almoçado, por volta do meio-dia, hora a que as bombas fechavam do período da manhã. Como a fila era grande deixei o carro e fui até casa. Até as 14:30 deu para ir à net ver os emails, para telefonar, conversar no MSN… essas coisas.

À hora de abertura regressei às bombas para abastecer 200 litros de gasolina e 400 de gasóleo. Correndo tudo normalmente seria talvez coisa para demorar uma hora a hora e meia, mas como por aqui só a anormalidade é normal, demorou muito mais....

Dois carros à minha frente estava um camião dos chineses que queria carregar 2500 litros. Pouco antes de ser atendido foi-lhe perguntado se já tinha pago. Mais de 500 litros só com pré pagamento feito no escritório situado a cerca de 300 metros. Não deve ter entendido o que o funcionário lhe disse nem depois do seu acompanhante angolano lhe ter explicado o mesmo, com o auxílio de gestos, porque se manteve impávido ao volante do camião. Quando chegou a vez dele ser atendido não tinha o papel justificativo do pagamento. O funcionário recusou-se a fornecer o combustível e o chinês recusou-se a retirar o camião estacionado no ponto de abastecimento, impedindo o atendimento de outros clientes.
-Diz-lhe que tem que ir pagar primeiro, diziam para o angolano que acompanhava o Chinês.
-Eu já disse mas ele não quer!
Mostravam ao chinês outras facturas já em poder do bombeiro e diziam-lhe por gestos que tinha que ir buscar uma para poder abastecer. E o chinês pequenino mas teimoso, mantinha-se impávido e sereno repetindo vezes sem conta provavelmente as únicas palavras que sabia de português,
-Tenho kuanzas, tenho kuanzas… numa pronúncia quase incompreensível.
Telefonou a alguém que saberia português porque depois de algumas palavras em chinês passou o telefone ao acompanhante angolano. O angolano falou, desligou e comunicou-nos que o chefe vinha aí para resolver.

E o chinês pôs-se naquela posição parecida com as nossas cócoras mas em que se sentam nas próprias barrigas das pernas, armou-se de toda a sua paciência e pôs-se à espera. Os angolanos que também são bons na arte de saber esperar apenas lhe ia fazendo uma ou outra sugestão na tentativa de conseguir alguma compreensão da parte do chinês.
- Cota, chega só o carro um pouco à frente para os outros abastecerem – pedia um!
- Eu tenho que ir para Luanda e tenho os clientes no táxi à espera – lamentava-se outro!
Depois de muita insistência, não aguentou a pressão, entrou no camião e quando se preparava para arrancar apareceu um carro com o chefe que mesmo antes de se apear ordenou com gestos em chinês para que ficasse onde estava. Foi um balde de água fria… ia começar tudo de novo.

Continua depois das Minas. Ainda não tinha acabado de escrever este post quando aconteceu o episódio da mina que relato a seguir e a que decidi dar prioridade.

2 comentários:

Unknown disse...

Seria carneiro o chinesito??? (risos)
Meu Deus, precisava de um curso intensivo de vida Angolana para resolver os meus problemas com a paciência... ou falta dela ;-))

Beijos

Lusbelo disse...

Olá!

Cercados de mestres, as aulas práticas são a todo o momento. O curso é viver Angola.

Beijos