sábado, 13 de dezembro de 2008

Os Chineses - Parte II

Continuação...

Este chinês era ainda mais pequeno, quase anão para padrões ocidentais, mas muito mais enérgico e com muito menos calma. Discutia muito com o bombeiro mas além de, chinês tem kuanza, chinês não foge, tu homem mau, quase mais nada entendíamos. Pelos gestos entendemos que ele queria que o bombeiro começasse a abastecer enquanto ele ia ao escritório pagar. O bombeiro respondia que só começava abastecer quando tivesse o papel, e mesmo depois de entregar o papel teria de passar para trás dos que já tinham entregado o papel.

A deitar chispas pelos olhos lá foi ele com passos curtos mas rápidos e cheios de energia, o carro em que veio tinha regressado à base, e foi vê-lo rua a cima cada vez mais pequenino a cada passada. Mal ele partiu já o bombeiro telefonava para o escritório:
- Vai aí um chinês. Não o atende. Tem o carro aqui parado e não deixa ninguém ser atendido. Se vier com o papel vai querer ser atendido à frente dos outros que já entregaram o papel.

Com o tempo a passar foi-se fazendo também uma fila de bidons de 20 litros para serem enchidos. O bombeiro continuava na sua de não atender ninguém, nem mesmo os bidons carregados à mão do pessoal da candonga. Uma fila de carros na estrada e uma fila de bidons no passeio à espera da decisão dos chineses. No meio de toda aquele confusão apareceu alguém com dois bidons, dirigiu-se directamente ao primeiro lugar da fila e foi atendido de imediato… Quando alguém reclamou, o bombeiro justificou-se:
- Não estou a atender ninguém. Estes bidons são meus. Vão para minha casa para quando acabar o combustível as pessoas ainda poderem comprar lá… Em termos angolanos foi uma boa justificação já que todos aceitaram o facto com naturalidade. ;-))

Entretanto já o chinês descia a rua sem papel e com o empregado do escritório a segui-lo. Chegado cá a baixo, mais do mesmo. Porque queriam carregar combustível... porque tinham que tirar o camião. E aí vai o chinês pequenino de novo rua a cima sem que ninguém percebesse muito bem o que ia fazer. Com o empregado do escritório cá em baixo não ia conseguir nada lá em cima. Com as coisas neste pé, só restava a solução de ir chamar a polícia. O empregado do escritório que agora estava por ali encarregou-se da tarefa. Afinal era quase só atravessar a rua. Pouco tempo passou e já dois polícias estavam no local. Mesmo com a autoridade que a farda lhes confere e só com um chinês no terreno, ainda tiveram que fazer uso de todo o seu poder de persuasão, ameaçando multar o camião chinês, para que o chinês motorista se resignasse a carregar apenas 500 Litros.

Despachados os chineses tudo correu normalmente. De assinalar que em todo este processo que demorou mais de duas horas, apenas se ouviram alguns comentários aludindo ao facto de os chineses, por terem as costas quentes devido ao seu papel essencial que desempenham na reconstrução do país, quererem passar por cima de todos. Nada de gritos, nada de insultos nem ameaças de violência. Tudo incomparavelmente mais civilizado do que em muitos locais ditos civilizados que eu conheço.

1 comentário:

Seagul disse...

Esses chineses são cá dum calibre!
Se maiores fossem, não seriam tão teimosos - a teimosia está concentradinha... :) :(
Beijinho com saudades.
Gina