domingo, 31 de agosto de 2008

Um dia como qualquer outro

Dia 26-08-2008

Do camião que foi ontem à vila carregar combustível para a unidade industrial recebemos a comunicação que em Calulo o combustível estava esgotado. Situação habitual… Foram dadas orientações para que seguisse até ao Dondo, mais 90 Km, onde normalmente não esgota. Já hoje pela manhã, com a ameaça de esgotamento cada vez mais real alguém se lembrou que poderia também não existir combustível no Dondo. Situação menos frequente mas que também acontece. Para evitar que o motorista resolvesse regressar sem carregar o combustível tornou-se urgente ligar-lhe a saber o ponto da situação, o que tinha de ser feito com ele ainda ou já no Dondo ou arredores, único local onde existe rede de telemóvel no caminho entre Calulo e Dondo. Com o telefone satélite numa das suas birras, recusando-se a fazer a ligação, ficou a restar apenas a hipótese do morro. Alguém descobriu que no morro, sentado numa determinada pedra, e tem mesmo que ser sentado porque de pé já não se apanha rede, se consegue falar através da Movicel. Era “apenas” fazer 10 minutos de picada de carro e mais 15 a pé a subir a montanha.

E resultou… Sentado na pedra, a meia encosta da montanha imponente, consegui falar com o motorista. Estava na fila desde as 5 da manhã e havia a informação de “fonte segura”, estamos no cacimbo e as fontes neste tempo seco nunca são seguras, que chegaria combustível de Luanda por volta das 13 horas. Ficou orientação para ir até Catete, mais 140km em direcção a Luanda, caso a promessa de chegada de combustível ao Dondo não se verificasse.

De regresso a casa encontrei um vendedor já habitual de carne de caça. Quase todos os dias aparece com algum animal morto para vender. Desta vez trazia jibóia ( Serpente que chega a atingir 9 metros) às postas. Novecentos Kuanzas (Cerca de 9€) por trinta centímetros de jibóia. Dizem que é uma carne muito saborosa e houve quem comprasse. O lanche hoje foi jibóia grelhada e favos de mel recheados com larvas de abelhas. Dizem que também é bom mas eu passei nos dois petiscos…

Entretanto o motorista chegou, ainda antes do jantar, com o camião carregadinho de combustível para mais 15 dias de laboração…

sábado, 16 de agosto de 2008

Normalidades

Mais normal que a facilidade com que se morre, só a naturalidade com que se mata por aqui. Oito pessoas de várias idades, conhecidos ou familiares de conhecidos, morreram no espaço de uma semana. No mesmo período de tempo, 23 animais de várias espécies selvagens desfilaram sob os meus olhos, mortos das mais variadas maneiras, para sobrevivência das populações, para comercialização ou apenas por puro divertimento.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A Vingança

Depois da derrota em casa para o Girabola com o primeiro classificado, Petro de Luanda, foi a vez do Recreativo do Libolo ir a Luanda eliminar o mesmo adversário da taça de Angola. Os tomba gigantes no futebol existem em todo o mundo... :-)))))

domingo, 10 de agosto de 2008

Sábado de Lazer

Às 4:30 da madrugada já a fogueira crepitava a três metros da minha tenda. Alguém com insónias ou mais madrugador acendeu-a e começou a fazer o café. Às cinco já alguém, talvez atraído pelo aroma do café acabado de fazer juntou-se ao solitário e enquanto saboreavam o café foram conversando das aventuras da noite.
- Às duas horas os cães ladraram muito.
- Também ouvi. Talvez algum bicho que por aí andava…
- Talvez um bicho de duas pernas. Ouviu-se festa ao longe toda a noite e devem ter passado por aí já bem tocados!
Era mesmo gente que tinha passado nas imediações. Ouvi vozes ao longe momentos antes de os cães começarem a ladrar.
Às cinco e meia já o grupo era de três e a conversa e muito mais gente se ia levantando. A empresa não trabalha ao sábado e tem um carro que sai às seis hora e que leva quem quiser aproveitar a boleia.

Apenas oito resistiram à debandada geral e às nove horas da manhã já estávamos a almoçar carapaus estufados com arroz branco ou batata cozida. Acabados de almoçar ficamos com um dia inteiro para passar e pouco que fazer. No meio do mato, a quilómetros da “civilização” não é a televisão, mesmo com a novidade das Olimpíadas, que seduz os residentes… mas era o que havia para passar o tempo e chegamos a estar durante algum tempo a ver a prova de ciclismo.

Ainda não tinha acabado a prova quando o mecânico sugeriu que fizéssemos uma excursão à mata buscar uma peça necessária para acabar a reparação de um catrapilar. Uma peça minúscula impedia que se terminasse o trabalho e na mata existe uma máquina idêntica, abandonada já há muitos anos. Nova na altura, estava a abrir uma picada quando acabou o combustível. Por incúria, por incompetência ou impossibilidade devido à guerra, nunca mais lhe meteram combustível e a máquina nunca mais andou.
Como a alternativa era ir a Luanda, provavelmente a ter que encomendar a peça por não haver e com sorte dentro de um mês ter a peça na mão, resolvemos ir às “compras” à mata.

Chegados ao local encontramos a máquina protegida por um enorme enxame de abelhas com a colmeia mesmo junto à peça pretendida. Abelhas selvagens africanas, difíceis de lidar devido à sua grande agressividade. Mas não foi isso que nos fez desistir, até porque agora podíamos cumprir duas missões. Retirar a peça e conseguir algum mel. Apareceram logo “entendidos” no controlo de abelhas. Dos seis presentes apenas eu e o mecânico confessamos não perceber nada de abelhas quando os outros puseram mãos à obra. Enquanto faziam os preparativos, abriram alguns cartuchos para retirar a pólvora e cortaram alguns ramos secos e outros verdes. Tudo misturado seria para fazer um fumo especial que poria as abelhas anestesiadas…

Enquanto isso eu ia preparando a retirada. Com a catana limpei o caminho que nos levava até à carrinha ainda afastada uns cem metros do centro das operações. Fechei os vidros do carro, deixei as portas abertas, e quando já ia a regressar para junto dos outros já eles vinham a correr com centenas de abelhas “anestesiadas” atrás deles. Dei meia volta, entrei na carrinha e logo a seguir, de rompante, entraram os outros com algumas abelhas à mistura. A troco de umas ferroadas e dos óculos do mecânico, lá conseguimos a peça. Mas como não houve ninguém disposto a pagar o preço que as abelhas pediam pelo mel, esse ficou lá. Para a tardinha, quando as abelhas já tiverem acalmado e depois do petisco que o homem dos óculos esta a preparar, está marcada a operação de recuperação das lunetas…