quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Caótico!

À falta de melhor, caótico é a palavra utilizada. Mas era preciso inventar outra para descrever o trânsito em Luanda nos dias de ponta. Por aqui além das horas de ponta também existem dias de ponta. Ontem foi um deles... Uma hora para andar 500 metros diz da dificuldade para circular. Os carros ficam tão compactos, enrolados uns nos outros que nem as motorizadas conseguem movimentar-se e mesmo o peão para atravessar a rua tem que pedir aos automobilistas para dar um jeitinho de 2 ou 3 centímetros para muito a custo conseguir esgueirar-se por entre os carros.

Acredito que hoje vai ser melhor porque não consigo imaginar um cenário pior, mas como Angola tem sempre uma surpresa guardada para nós...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Quem diria!?

... e quando lhe perguntei do que mais gostava em Angola, o brasileiro respondeu sem hesitar:
- Ó cara, o melhor que Angola tem é a ségurança. Tu pode ir a qualquer hora em qualquer lugar sem medo. Na minha cidade, sair de casa depois do Sol Posto é suicídio...

E ele não é do Rio ou de S. Paulo. Vem de uma cidadezinha obscura, perdida na imensidão do Nordeste.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Cazumbir

Pelas duas da manhã o silêncio absoluto da noite foi atravessado por um grito chorado, misto de angústia, lamento e desespero. De 30 em 30 segundos, com a precisão de um cronómetro e durante cerca de uma hora, o choro prosseguiu, deslocando lentamente em volta da área onde estamos instalados.

Já tinha ouvido falar desse choro que em algumas noites inunda a floresta e dos mitos que o envolvem, e pelas seis da manhã perguntei “ingenuamente” à plateia de oitenta trabalhadores, que recebiam orientações sobre o que iriam fazer naquele dia, que animal era aquele que passou perto durante a noite e parecia uma pessoa a chorar. Uns garantiam que era o Cazumbir outros afirmavam com toda certeza que parecia o Cazumbir mas não era o Cazumbir. Era um pássaro que imita o Cazumbir… Não foi possível chegar a um consenso mas ninguém pôs em dúvida a existência do Cazumbir!!!

Nota: Cazumbir é o equivalente a fantasma, alma do outro mundo ou alma penada, na civilização ocidental. à falta de castelos e grandes mansões, aqui preferem andar pelas florestas.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Costumes

Estranha sociedade esta em que se janta o gato em convívio pacífico com os ratos...

domingo, 7 de setembro de 2008

The day after...

E já estamos no dia seguinte… Toda a campanha decorreu com grande civismo, sem incidentes violentos (pelo menos que eu tenha conhecimento), muita tolerância entre os partidos que ainda há meia dúzia de anos estavam em guerra e acesso de todos os partidos e coligações aos meios de comunicação do estado através dos tempos de antena atribuídos por lei como é normal em qualquer democracia. A mancha negra em todo este processo foi a TPA, televisão angolana, que esteve sempre descaradamente ao serviço do Governo, actuando sempre sem o mínimo de isenção.

Todos estávamos convencidos que teríamos de votar na assembleia de voto onde estávamos recenseados, e toda a programação de trabalho foi feita nesse sentido. A partir do fim de semana anterior toda a gente se começou a movimentar e as estradas ficaram apinhadas de gente que se deslocavam das mais variadas maneiras carregando como podiam tudo o que era possível levar. Penso que perante este panorama a Comissão Nacional de Eleições foi obrigada a autorizar o voto em qualquer assembleia. Com o ritmo de desenvolvimento que o país está a ter e com a facilidade nas deslocações devido à grande quantidade de estradas já recuperadas, são muitos milhares as pessoas que neste momento não se encontram no local onde se recensearam. Algumas estão mesmo muito, muito longe desses locais. Na fila de voto especial onde estive hora e meia à espera da minha vez, voto especial foi o nome dado aos votos feitos fora da sua assembleia de voto, junto a mim estavam quatro pessoas recenseadas em Luanda, três na Huíla, duas no Namíbe e seis do Cunene…

A votação propriamente dita decorreu com toda a normalidade, pelo menos nas assembleias de votos por onde andei. Abriu tudo à hora marcada e as grandes filas que se formaram logo a partir das seis da manhã, tinham desaparecido por volta das onze. Quando depois de votar cheguei a casa e liguei a televisão, fiquei a saber que em Luanda as coisas não tinham decorrido tão bem. Atrasos e muita desorganização só me vieram dar razão quando eu digo que o pior de Angola é Luanda. Trezentas e vinte assembleias de voto de Luanda terão de abrir ou reabrir hoje, (vamos ver se abrem)… Não é nada ilegal dado que estava previsto dois dias de votação em casos extraordinários mas teria sido muito mais bonito.