domingo, 28 de dezembro de 2008

As Cachoeiras

A ideia era ir até às Cachoeiras, lá para os lados do Sumbe/Gabela. Além de gostarmos do sítio, tínhamos oportunidade de mostrar a 4 adolescentes, entre os 14 e os 18anos que nunca tinham saído de Luanda, aspectos do seu país a que só têm acesso através de imagens de TV. A saída estava marcada para as 5 da manhã, mas a excitação era tanta entre as adolescentes que às três já estavam acordadas a preparar as coisas.

Como na Vila não existia gasóleo, raramente há dado que acaba em menos de 24 horas depois do reabastecimento dos tanques, teve que se andar 100 Km em sentido contrário para abastecer o carro. Ainda tínhamos combustível suficiente para chegar à Quibala que fica à mesma distância do Dondo mas não era certo que lá houvesse combustível. Como no Dondo há sempre, valia a pena fazer o sacrifício de mais 200 Km e não arriscar ficar na estrada. Como se esperava, no Dondo havia combustível… foi só abastecer, tomar mais um café e arrancar direitos ao objectivo.

O dia começou meio farrusco com nevoeiro e nuvens baixas na zona montanhosa que temos que atravessar no início da viagem. Manteve-se cinzento com alguns chuviscos a obrigarem-nos por vezes a meter sete pessoas nos cinco lugares da cabine do carro. Mas estas coisas em Angola são sempre encaradas como um bónus no divertimento e nunca como uma contrariedade.

Chegamos à Quibala e tal como prevíamos não havia combustível. Foram bem empregues os 200Km feitos a mais. Com menos de metade do caminho percorrido tinha chegado o fim do asfalto. Ia começar o mais difícil da viagem. Entre a Quibala e o Sumbe, com a estrada em obras, encontram-se troços de estrada péssima, estrada má, estrada assim assim, e um bocadinho de estrada boa a descer a serra da Gabela para o Sumbe. Mas a beleza da paisagem encarregava-se de apagar qualquer resquício de má disposição e enquanto olhamos o espectáculo que nos rodeia esquecemos os buracos ou a lama da estrada. Rios caudalosos, (Kuanza duas vezes, Longa, Nhia, Keve e outros de menor dimensão mas mesmo assim com uma impressionante força das águas), planícies a perder de vista com monólitos do tamanho de montanhas semeados aleatoriamente. Cordilheiras de altas montanhas a separar uma planície de outra ainda maior… e o verde. O verde de tonalidades próprias de África sempre como companhia.

O local é bonito, muito bonito mesmo e com o pormenor raro em Angola de estar limpo e cuidado. Sem a monumentalidade de outras quedas de água de Angola, impressionam pela força do grande caudal do rio. Estranho como aquela fúria das águas e o som alto e persistente tem o condão de nos trazer uma imensa e profunda serenidade. Três horas, um mergulho e muitas fotografias depois era tempo de regressar.

De regresso, a mesma paisagem pareceu perder o encanto da manhã. Ou pela luz que era diferente, o sol já espreitava por entre as nuvens pintando manchas claras na paisagem substituindo as neblinas dispersas da manhã nesse papel , ou pelo cansaço que nos fazia desejar que a casa fosse já ali, as sensações também se tornaram diferentes.

Pouco antes da chegada e já ao anoitecer, uma trovoada monumental acompanhada de chuva torrencial durante mais de uma hora, obrigou-nos a caber novamente os sete na cabine. Para mim foi um fecho com chave de ouro. Para outros nem por isso.



Com o céu todo negro e quatro grandes trovões secos mesmo aqui por cima, anunciam neste momento, 12:25 de Domingo, a chegada mais uma tempestade.

sábado, 20 de dezembro de 2008

A Força do Feitiço

A porta pedida há já algum tempo estava pronta e bonitinha. A São, a nossa fiel e imprescindível empregada, transbordava felicidade por finalmente ir ter uma porta na sua casa. Quando na quinta-feira de manhã cheguei à fazenda a primeira coisa que ela me disse foi que eu me tinha enganado na porta. No dia anterior, em vez de ter levado a porta que se destinava à casa da vila tinha levado a dela. Mas eu não tinha levado porta nenhuma no dia anterior… 1+1= a porta tinha sido roubada durante a noite.

Como foi? Quem terá sido? A conversa com os carpinteiros, os responsáveis pela carpintaria, foi inconclusiva quanto ao autor, mas deu para concluir que poderia ter sido qualquer um dos oitenta trabalhadores e que a porta não estava longe. Todos os que trabalharam no dia anterior estavam a trabalhar e como as respectivas casas ficam todas a mais de 10 Kms, não houve tempo de terem levado a porta a pé até casa e voltado na mesma noite.

Falou-se em reter os salários até a porta aparecer, os pagamentos seriam sexta-feira, ou descontar um tanto a cada um dos trabalhadores para pagar a porta à São, que representava uma quarta parte do salário mensal. Mas a São disse que não era preciso, ela própria ia tratar do assunto.

Ao fim do dia, quando o pessoal se reuniu todo para receber os cartões de ponto, entrou a São em acção. A uns minutos de discurso em Quimbumdo dirigido à plateia, seguiram-se mais alguns em Português em que disse mais ou menos isto…
- Vocês só sabem roubar e não vos basta roubar os brancos que não sabem fazer feitiço, agora também roubam os pretos? Desta vez se enganaram, a porta é minha, sou preta como vocês e sei fazer feitiço. Se a porta não aparecer ali a trás daquela madeira amanhã de manhã, vou fazer um feitiço para o ladrão morrer. Feitiço forte de morrer mesmo, não só de ficar doente. Eu sei, não custa nada. É só uma galinha que já pedi ao Tio Amândio e pouco mais. Já vos avisei.

Fez-se um silêncio sepulcral e lentamente retiraram, enquanto a São nos confidenciava que a porta ia aparecer.

No dia seguinte logo ao iniciar os trabalhos alguém encontrou a porta exactamente no local apontado pela São onde deveria ser colocada. Instalou-se de imediato uma alegria enorme com uma algazarra audível a vários Kms. Todos quiseram ajudar a trazer a porta até ao local de onde tinha sido roubada, ou pelo menos tocar-lhe. Pareceu ter ganho algo de sobrenatural.

- Eu não disse que a porta ia aparecer – Ia repetindo a São com um enorme sorriso estampado no rosto.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Saltando e Rindo

Tanta coisa que está mal. Tanta coisa que por vontade de alguém vai atrapalhando quem dedica o seu esforço ao desenvolvimento de Angola e consequentemente à melhoria da qualidade de vida dos Angolanos.

Umas vezes por incapacidade de quem está à frente dos organismos que tutela, mas na maioria dos casos apenas fruto do oportunismo de quem tem aquele poderzinho de poder emperrar isto ou aquilo, sabendo que daí poderá tirar dividendos, fazem com que caminhemos de gasosa em gasosa como quem atravessa um rio torbulento saltando de pedra em pedra, molhando os pés aqui e ali, mas sempre na esperança de chegar ao lado de lá sem um mergulho nas águas.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Fotos













Mesmo não sendo este um blog dedicado à fotografia, não resisti a colocar algumas tiradas a semana passada num passeio pedestre pela vila. Apenas a chuva que se aproximava ameaçadora em duas frentes me impediu de passar toda a manhã de Domingo entretido a guardar instantâneos para mais tarde recordar.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Os Chineses - Parte II

Continuação...

Este chinês era ainda mais pequeno, quase anão para padrões ocidentais, mas muito mais enérgico e com muito menos calma. Discutia muito com o bombeiro mas além de, chinês tem kuanza, chinês não foge, tu homem mau, quase mais nada entendíamos. Pelos gestos entendemos que ele queria que o bombeiro começasse a abastecer enquanto ele ia ao escritório pagar. O bombeiro respondia que só começava abastecer quando tivesse o papel, e mesmo depois de entregar o papel teria de passar para trás dos que já tinham entregado o papel.

A deitar chispas pelos olhos lá foi ele com passos curtos mas rápidos e cheios de energia, o carro em que veio tinha regressado à base, e foi vê-lo rua a cima cada vez mais pequenino a cada passada. Mal ele partiu já o bombeiro telefonava para o escritório:
- Vai aí um chinês. Não o atende. Tem o carro aqui parado e não deixa ninguém ser atendido. Se vier com o papel vai querer ser atendido à frente dos outros que já entregaram o papel.

Com o tempo a passar foi-se fazendo também uma fila de bidons de 20 litros para serem enchidos. O bombeiro continuava na sua de não atender ninguém, nem mesmo os bidons carregados à mão do pessoal da candonga. Uma fila de carros na estrada e uma fila de bidons no passeio à espera da decisão dos chineses. No meio de toda aquele confusão apareceu alguém com dois bidons, dirigiu-se directamente ao primeiro lugar da fila e foi atendido de imediato… Quando alguém reclamou, o bombeiro justificou-se:
- Não estou a atender ninguém. Estes bidons são meus. Vão para minha casa para quando acabar o combustível as pessoas ainda poderem comprar lá… Em termos angolanos foi uma boa justificação já que todos aceitaram o facto com naturalidade. ;-))

Entretanto já o chinês descia a rua sem papel e com o empregado do escritório a segui-lo. Chegado cá a baixo, mais do mesmo. Porque queriam carregar combustível... porque tinham que tirar o camião. E aí vai o chinês pequenino de novo rua a cima sem que ninguém percebesse muito bem o que ia fazer. Com o empregado do escritório cá em baixo não ia conseguir nada lá em cima. Com as coisas neste pé, só restava a solução de ir chamar a polícia. O empregado do escritório que agora estava por ali encarregou-se da tarefa. Afinal era quase só atravessar a rua. Pouco tempo passou e já dois polícias estavam no local. Mesmo com a autoridade que a farda lhes confere e só com um chinês no terreno, ainda tiveram que fazer uso de todo o seu poder de persuasão, ameaçando multar o camião chinês, para que o chinês motorista se resignasse a carregar apenas 500 Litros.

Despachados os chineses tudo correu normalmente. De assinalar que em todo este processo que demorou mais de duas horas, apenas se ouviram alguns comentários aludindo ao facto de os chineses, por terem as costas quentes devido ao seu papel essencial que desempenham na reconstrução do país, quererem passar por cima de todos. Nada de gritos, nada de insultos nem ameaças de violência. Tudo incomparavelmente mais civilizado do que em muitos locais ditos civilizados que eu conheço.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Minas

Sinal que avisa que do lado esquerdo da picada se encontra um campo minado.



Nesta imagem pode-se ver como estão "guardados" os materiais explosivos encontrados pelas equipas de desminagem. Ao ar livre e alcance de qualquer um.


Dia 9 de Dezembro, meio da tarde com as pessoas nas suas actividades do dia a dia. De repente um estrondo e toda a vila é abalada. As pessoas precipitaram-se para locais de onde poderiam ver a encosta de onde veio o som da explosão. Não era preciso ser um perito para adivinhar o que tinha acontecido. Mais uma mina tinha rebentado…

Da fila para o combustível onde me encontrava, podia ver na perfeição a encosta que dá para o alto das mangueiras onde se edifica a Cidade Nova. Construída no local ocupado pelo quartel em tempo de guerra, estava rodeada de campos minados que na altura protegiam as instalações militares. Durante os trabalhos de desminagem era frequente ouvir explosões provocadas, mas a zona foi dada como limpa e há muito que nada explodia para aquelas bandas. Depois da explosão ainda se instalou a dúvida se seria mais uma explosão controlada ou se pelo contrário, esta seria acidental. Dúvida depressa desfeita pelos gritos que lá da montanha chegavam à vila e com a visão de pessoas, pequeninas como formigas, a correr desordenadamente na tela verde que era a encosta que dá para o Bairro das Mangueiras. Uns afastavam-se do local enquanto outros convergiam para o ponto da explosão. Os minutos passaram nesta azafama de pessoas em movimentos aleatórios até que apareceu um carro branco, da desminagem ou talvez uma ambulância, e alguém saído do carro, também vestido de branco destacou-se em toda aquela movimentação como a personagem principal de um bailado macabro, ora correndo até ao local do acidente, ora correndo novamente até ao automóvel… O tempo passou e tudo voltou à normalidade de antes. Tinha sido mais um acidente não muito diferente de outros a que já todos tinham assistido.

Ainda na fila do combustível fui sabendo os pormenores comentados com uma frieza de arrepiar. Alguns rapazes tinham ido às mangas, ainda estão verdes mas é quase um ritual pelo qual eu próprio passei vezes sem conta em miúdo, comer mangas verdes com sal. Um deles accionou uma mina e ficou sem as duas pernas. Longe de se compadecerem com o que aconteceu ao rapaz, os comentários eram unânimes em responsabilizá-lo com frases do género – Se não passava fome para que é que tinha de ir apanhar mangas? Os próprios investigadores da polícia que por ali passaram a pé a caminho do hospital, perante o comentário meio provocatório do funcionário das bombas de que a desminagem não tinha feito o trabalho em condições, responderam com a pergunta – E que é que ele tinha que ir lá fazer?

Mais tarde, já em casa e em conversa de amigos apercebi-me de teorias pouco abonatórias que correm em relação às empresas de desminagem. Para puderem prolongar os contratos vão colocando novas minas em locais já desminados, ou descobrem minas noutros onde nunca constou que tivesse havido minas. É o que se diz para justificar rebentamentos inexplicáveis em locais dados como seguros e já frequentados em segurança há vários anos e a descoberta de minas em locais improváveis… Teorias difíceis de aceitar e obviamente não alinho nesta teoria, mas servem para ver que as empresas de desminagem não são vistas com muitos bons olhos. Sabe-se lá porquê!

Os Chineses

Até podia ter outro título, mas como vem depois dos alemães…

Uma semana à espera de conseguir combustível. Primeiro não havia mesmo combustível. Chega já amanhã. O já amanhã prolongou-se por dois dias. Porque o camião de combustível avariou no caminho e tal e tal… Já vem outro a caminho e amanhã já vai haver. Este outro camião não avariou mas também este amanhã demorou dois dias a chegar. Quando finalmente chegou o combustível faltou a energia. Haveria ainda a possibilidade de abastecer nas outras bombas que funcionam com gerador se o gerador não estivesse avariado…

No dia 8 de Dezembro estavam reunidas todas as condições. Havia energia eléctrica e combustível com fartura. Só não havia motorista para o carro e tive que ser eu a ir à vila em busca do indispensável combustível para manter a unidade em funcionamento. Depois de ter saído da vila às 4 da manhã regressei, já almoçado, por volta do meio-dia, hora a que as bombas fechavam do período da manhã. Como a fila era grande deixei o carro e fui até casa. Até as 14:30 deu para ir à net ver os emails, para telefonar, conversar no MSN… essas coisas.

À hora de abertura regressei às bombas para abastecer 200 litros de gasolina e 400 de gasóleo. Correndo tudo normalmente seria talvez coisa para demorar uma hora a hora e meia, mas como por aqui só a anormalidade é normal, demorou muito mais....

Dois carros à minha frente estava um camião dos chineses que queria carregar 2500 litros. Pouco antes de ser atendido foi-lhe perguntado se já tinha pago. Mais de 500 litros só com pré pagamento feito no escritório situado a cerca de 300 metros. Não deve ter entendido o que o funcionário lhe disse nem depois do seu acompanhante angolano lhe ter explicado o mesmo, com o auxílio de gestos, porque se manteve impávido ao volante do camião. Quando chegou a vez dele ser atendido não tinha o papel justificativo do pagamento. O funcionário recusou-se a fornecer o combustível e o chinês recusou-se a retirar o camião estacionado no ponto de abastecimento, impedindo o atendimento de outros clientes.
-Diz-lhe que tem que ir pagar primeiro, diziam para o angolano que acompanhava o Chinês.
-Eu já disse mas ele não quer!
Mostravam ao chinês outras facturas já em poder do bombeiro e diziam-lhe por gestos que tinha que ir buscar uma para poder abastecer. E o chinês pequenino mas teimoso, mantinha-se impávido e sereno repetindo vezes sem conta provavelmente as únicas palavras que sabia de português,
-Tenho kuanzas, tenho kuanzas… numa pronúncia quase incompreensível.
Telefonou a alguém que saberia português porque depois de algumas palavras em chinês passou o telefone ao acompanhante angolano. O angolano falou, desligou e comunicou-nos que o chefe vinha aí para resolver.

E o chinês pôs-se naquela posição parecida com as nossas cócoras mas em que se sentam nas próprias barrigas das pernas, armou-se de toda a sua paciência e pôs-se à espera. Os angolanos que também são bons na arte de saber esperar apenas lhe ia fazendo uma ou outra sugestão na tentativa de conseguir alguma compreensão da parte do chinês.
- Cota, chega só o carro um pouco à frente para os outros abastecerem – pedia um!
- Eu tenho que ir para Luanda e tenho os clientes no táxi à espera – lamentava-se outro!
Depois de muita insistência, não aguentou a pressão, entrou no camião e quando se preparava para arrancar apareceu um carro com o chefe que mesmo antes de se apear ordenou com gestos em chinês para que ficasse onde estava. Foi um balde de água fria… ia começar tudo de novo.

Continua depois das Minas. Ainda não tinha acabado de escrever este post quando aconteceu o episódio da mina que relato a seguir e a que decidi dar prioridade.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Os Alemães




Ruínas de uma casa de fazenda de alemães

Da enorme colónia de alemães existente no Libolo na era colonial sobraram quatro. Contra tudo e contra todos aqui permaneceram, mantiveram as propriedades e adquiriram a nacionalidade Angolana. Muito diferentes de portugueses e de angolanos, desde criança habituei-me a ouvir histórias relativas à sua excentricidade ou aos hábitos culturais muito diferentes dos nossos.

Hoje num convívio de amigos voltei a recordar aquelas histórias. Esta é recente e passada com um dos quatro alemães restantes... certo dia o alemão fazia anos e convidou algumas figuras da terra para a festa. A festa era na fazenda mas como os angolanos estão sempre prontos para uma boa festa, à hora marcada.

O cenário era uma casa abandonada há mais de dois meses com ervinhas, aranhas e centopeias no alpendre, um capinzal no quintal e a casa toda fechada. Foram chegando outros convidados e nada de anfitrião. Instalou-se a dúvida se a festa seria mesmo ali, mas como era pouco provável que todos estivessem equivocados esperaram. Saber esperar é fácil em Angola. Faz parte da vida e corre nas veias como um dos temperos fundamentais do sangue angolano. Além disso, por estas paragens há sempre que contar com o habitual imprevisto. Chamamos imprevisto não por duvidarmos que aconteça, mas por não sabermos o que vai acontecer.

Dizem que mais de uma hora depois apareceu o anfitrião. Trazia para a festa algumas latas de sardinha, pão, cerveja e algumas gasosas. Uma travessa enorme deu para pôr o conteúdo das latas de sardinha e ou menos lestos a pegar em talheres tiveram que usar da imaginação para conseguir comer alguma coisa além de pão.





quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

24 horas algures em Angola

A primeira notícia desagradável foi que a UNITEL estava OFF... Sendo a minha rede para telemóvel e internet, além de continuar como na fazenda sem comunicações, ainda juntei a isso a desilusão de expectativas frustradas de poder comunicar com o mundo exterior.

Mas vamos à história completa... Além da rede de telemóvel, também não existia o gasóleo que eu vinha comprar... só chega amanhã de Luanda, disseram-me. Óptimo, já era quase noite e não fazia tenções de regressar à fazenda àquela hora. Sem net ainda consegui uma boleia no PC do meu irmão que usa outra rede, mas mesmo assim deitei-me relativamente cedo. Não nos levantamos impunemente às 5 da manhã.

Ao deitar-me planeei ir comprar gasóleo para a fazenda, e gasolina para o gerador cá de casa logo cedinho e arrancar para a fazenda logo a seguir. Convencido que assim seria, por volta das seis horas já tomava o meu cafesinho e me preparava para fazer o que tinha programado. Um olá através da net aos amigos e familiares espalhados pelo mundo e lá vou eu... gasóleo já havia mas a bomba que o puxa do depósito subterrâneo estava avariada. :-(( O técnico já vai arranjar... -E gasolina? -Gasolina não veio!!! :-((((((

Uma volta pelos candongueiros conhecidos na tentativa de arranjar 20 litros de gasolina foi infrutífera. Gasóleo havia com fartura mas era vendido em doses de 20 litros ao dobro do preço e eu queria 500 litros. Não era viável. Vou esperar que a bomba seja arranjada...

Em casa, ainda sem rede de net e de telm, consegui novamente uma boleia no PC do irmão para uns olás a pessoas distantes que moram em mim. O resto da manhã foi passado a orientar as obras de construção civil que decorrem cá em casa, com a energia eléctrica intermitente a atrapalhar. Não muito porque é quase tudo manual com poucas máquinas a depender de energia eléctrica.

Depois de almoço nova investida em busca do gasóleo. Encostei na bomba e tudo fechado... alguém que ia a passar informou-me que a bomba estava avariada. Já sabia mas agradeci... No regresso desiludido a casa deparei com meia dúzia de adolescentes com bidons de 20 litros, imagem típica de candongueiros de combustível, sentados nas escadas da fortaleza. Perguntei se vendiam gasolina. Que não, que só tinham gasóleo. -E gasolina, onde posso encontrar. -Gasolina é o bombeiro, empregado das bombas de combustível, que vende na casa dele... :-O

Não arranjo gasóleo para a fazenda mas vou conseguir gasolina para o gerador de casa, pensei. Mas a gasolina já tinha acabado até na casa do bombeiro. Mas como nem tudo pode correr mal, reapareceu o sinal da UNITEL.

Vou para casa enviar umas mensagens e fazer uns telefonemas e arranco para a fazenda de seguida. De mãos a abanar, é certo, mas como na vila já não estava a fazer nada... Pude enviar as mensagens e telefonar mas qundo me preparava para partir, um espesso nevoeiro acompanhado de forte trovoada escondeu por completo o Sol e não tardou que catadupas de água se abatessem na terra sedenta, já não chovia há 15 dias, libertando o cheiro característico destas paragens a terra molhada. A escurecer e com a chuva diluviana que se fazia sentir, resolvi não arriscar uma viagem de quase 40 km em picada, com um carro de vinte anos...

Agora, já sem chuva e com a energia de regresso, tenho o despertador ligado para as 4 da manhã, na esperânça de partir às 4:30.