domingo, 10 de agosto de 2008

Sábado de Lazer

Às 4:30 da madrugada já a fogueira crepitava a três metros da minha tenda. Alguém com insónias ou mais madrugador acendeu-a e começou a fazer o café. Às cinco já alguém, talvez atraído pelo aroma do café acabado de fazer juntou-se ao solitário e enquanto saboreavam o café foram conversando das aventuras da noite.
- Às duas horas os cães ladraram muito.
- Também ouvi. Talvez algum bicho que por aí andava…
- Talvez um bicho de duas pernas. Ouviu-se festa ao longe toda a noite e devem ter passado por aí já bem tocados!
Era mesmo gente que tinha passado nas imediações. Ouvi vozes ao longe momentos antes de os cães começarem a ladrar.
Às cinco e meia já o grupo era de três e a conversa e muito mais gente se ia levantando. A empresa não trabalha ao sábado e tem um carro que sai às seis hora e que leva quem quiser aproveitar a boleia.

Apenas oito resistiram à debandada geral e às nove horas da manhã já estávamos a almoçar carapaus estufados com arroz branco ou batata cozida. Acabados de almoçar ficamos com um dia inteiro para passar e pouco que fazer. No meio do mato, a quilómetros da “civilização” não é a televisão, mesmo com a novidade das Olimpíadas, que seduz os residentes… mas era o que havia para passar o tempo e chegamos a estar durante algum tempo a ver a prova de ciclismo.

Ainda não tinha acabado a prova quando o mecânico sugeriu que fizéssemos uma excursão à mata buscar uma peça necessária para acabar a reparação de um catrapilar. Uma peça minúscula impedia que se terminasse o trabalho e na mata existe uma máquina idêntica, abandonada já há muitos anos. Nova na altura, estava a abrir uma picada quando acabou o combustível. Por incúria, por incompetência ou impossibilidade devido à guerra, nunca mais lhe meteram combustível e a máquina nunca mais andou.
Como a alternativa era ir a Luanda, provavelmente a ter que encomendar a peça por não haver e com sorte dentro de um mês ter a peça na mão, resolvemos ir às “compras” à mata.

Chegados ao local encontramos a máquina protegida por um enorme enxame de abelhas com a colmeia mesmo junto à peça pretendida. Abelhas selvagens africanas, difíceis de lidar devido à sua grande agressividade. Mas não foi isso que nos fez desistir, até porque agora podíamos cumprir duas missões. Retirar a peça e conseguir algum mel. Apareceram logo “entendidos” no controlo de abelhas. Dos seis presentes apenas eu e o mecânico confessamos não perceber nada de abelhas quando os outros puseram mãos à obra. Enquanto faziam os preparativos, abriram alguns cartuchos para retirar a pólvora e cortaram alguns ramos secos e outros verdes. Tudo misturado seria para fazer um fumo especial que poria as abelhas anestesiadas…

Enquanto isso eu ia preparando a retirada. Com a catana limpei o caminho que nos levava até à carrinha ainda afastada uns cem metros do centro das operações. Fechei os vidros do carro, deixei as portas abertas, e quando já ia a regressar para junto dos outros já eles vinham a correr com centenas de abelhas “anestesiadas” atrás deles. Dei meia volta, entrei na carrinha e logo a seguir, de rompante, entraram os outros com algumas abelhas à mistura. A troco de umas ferroadas e dos óculos do mecânico, lá conseguimos a peça. Mas como não houve ninguém disposto a pagar o preço que as abelhas pediam pelo mel, esse ficou lá. Para a tardinha, quando as abelhas já tiverem acalmado e depois do petisco que o homem dos óculos esta a preparar, está marcada a operação de recuperação das lunetas…

3 comentários:

Unknown disse...

Fernando :D

Já me arrancou uns valentes sorrisos... só de imaginar!!
Vejo que as noites continuam complicadas... as minhas também um pouquinho... e não estou em Angola...

... ainda!!

Aquele beijo e... saudades ;-))

Lusbelo disse...

;-))

As noites são lonnnnnnnngas... e quando assim é não existe sono capaz de as preencher.

;-*

Seagul disse...

Também em Braga, também em Braga!
Não há sono que resista à inquietude!
Beijinhos.
Gina

P.S. Apesar disso, o relato das aventuras, ameniza a espera.Só mesmo em Angola - uma árvore algures na mata,em vez de banana, dá peças mecânicas... :) :) :)