sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Vidas


Incansável, castigada pelo sol forte que hoje se faz sentir e com o bebé de um ano às costas, vai limpando as ervas do quintal que teimam em crescer mais de um centímetro por dia. Ora a rapar com a enxada as ervas sem préstimo algum, ora a escolher e e arrancar à mão, com a deliciosa preguiça que no mundo de hoje só em África ainda é possível, aquelas que provavelmente lhe servirão de jantar, ora descansando encostada ao cabo da enxada enquanto amamenta o bebé e deita um olhar aos outros três filhos sentados à sombra de uma árvore entretendo-se sabe-se lá com quê, espera que mais um dia acabe, com a certeza que os que aí vêm não serão melhores.

O marido que também trabalhava aqui foi ontem despedido e ela ficou com 4 crianças, de idades compreendidas entre um e os seis anos para sustentar. Dito assim, o despedimento pode parecer um acto desumano e que para a senhora terá sido uma desgraça. Mas em África, tal como nas sombras chinesas, em todos os acontecimentos a realidade está sempre escondida por de trás do biombo.

Com dois filhos de uma união anterior, e os outros dois deste novo companheiro, além dos maus tratos sofridos por ela e pelos filhos, ainda era obrigada a gastar quase todo o seu vencimento em bebida para ele. Quando soube que o marido foi despedido, por desacatos provocados por ele no acampamento durante a noite, apressou-se a perguntar se ela poderia continuar a trabalhar por cá. Por cá ficou.
Além de aqui estar mais ou menos protegida, em vez de seis, passa a ter apenas cinco bocas a sustentar.

4 comentários:

Seagul disse...

À falta de palavras, lágrimas tomam o seu lugar - que mulheres,dignas de respeito, de ajuda e em vez disso, tão usadas, abusadas,abandonadas!Sendo-se justo e sensível,como viver Àfrica assim deste modo? Gostando que fosse diferente, gostando de fazer diferente, não será inevitável um sentimento de impotência, de alguma frustação?
Gina

Unknown disse...

Deus escreve certo por linhas tortas...

Em África, ou na Europa... de uma forma mais visível ou nem tanto...
Esta é uma realidade que existe!... Infelizmente...

Beijosss

Lusbelo disse...

Gina ;-*

Nem as palavras, nem as lágrimas podem resolver estas questões mas se estivermos atentos e fizermos o pouco que cada um de nós pode fazer, o tempo será nosso aliado.

Beijo

Lusbelo disse...

Natacha! ;-)

De uma forma visível, tão visível e evidente, ao ponto de ser escandalosa em Angola/África!

Beijo