segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Manhã Diferente











Ainda sem persianas na janela e com um cortinado quase transparente, os primeiros raios da manhã inundaram livremente o quarto virado a nascente, substituindo com vantagem o despertador. Ainda antes das sete já estava de partida para fazenda. Desta vez por um trajecto diferente, que faz aumentar a distância de 35 Km em picada, para 110, repartidos entre 80 de asfalto e 30 de picada.

Sozinho no carro, sem a música nem o rádio ligados por opção, entreguei-me à paisagem que ia aparecendo à minha frente. Muita gente na estrada à saída da vila/cidade, na sua grande maioria mulheres acompanhadas de crianças, carregando ferramentas de lavoura nos recipientes vazios que ao cair do dia permitirão trazer o que servirá de jantar a toda família naquele dia. Caminhando literalmente no meio da estrada, afastam-se lentamente com à aproximação do automóvel. Devido a este intenso tráfego pedonal, só ao fim de alguns quilómetros pude libertar a atenção da estrada e aconchegar os olhos a um vasto panorama de floresta de montanha. Vestida de lavado pelo forte cacimbo que se fez sentir durante a noite, e matizada de centenas tonalidades diferentes de verde, ali estava pronta para ser desfrutada, toda a beleza e o esplendor de uma floresta tropical. Só a longa e estreita faixa de asfalto negro destoa da cor dominante. Nesta altura do ano em que o começo das chuvas faz renascer a vegetação, cada planta capricha em ter um verde diferente de todos os outros, chegando algumas delas por si só a apresentar várias tonalidades diferentes de verde, consoante a idade da folhagem ou o ângulo de incidência da luz. Aqui e ali as nuvens baixas escondiam o pico das montanhas mais altas, permitindo-nos imaginá-las tão altas quanto o tamanho da nossa imaginação. Foram 40 Km de distância com 600m de desnível mergulhado em verde. Depois de uma curva apertada numa garganta estreita entre duas montanhas, o sol que inunda toda a planície lá ao fundo quase me encandeia com o seu aparecimento inesperado. Os verdes tornaram-se acastanhados e a floresta de árvores de grande porte deu lugar a uma espécie de Savana com árvores quase arbustos.








Na planície rodeada de altas montanhas sobressaem os pavilhões brancos do aviário gerido pela Vovó Galinha, alcunha carinhoso devido à dedicação que tem pelos seus pintos. Uma visita de “cortesia” à Vovó Galinha, um dia ainda falo aqui da Vovó Galinha… Acho que ela merece um post exclusivo. A “cortesia” deveu-se a uns dinheiros atrasados que o aviário nos deve!! Quarenta e cinco minutos de conversa em forma monólogo, quem me conhece sabe de certeza quem dominou o monólogo, e segui viagem na estrada que liga Luanda ao Huambo, no famoso troço dos Morros do Lussusso, terror dos camionistas já na era colonial. Impressionante o número de carcaças de camiões que ladeiam a estrada. Um autêntico cemitério de camiões e camionistas. Facilmente nos apercebemos pelo aspecto que algumas jazem ali há muitos anos, mas outros são bem recentes. Lá estava, no fim de uma descida e antes de uma curva, espalhados numa ribanceira, os restos dum camião e da ração que vinha da Namíbia para os pintos da Vovó Galinha. O camião tinha-se despistado três dias antes e o seu aspecto, separado em várias partes, não permitia ter grandes esperanças na sobrevivência do motorista. Mas sobreviveu, segundo informação acabada de receber da minha interlocutora recente. Sobreviveu ao acidente mas duvido que tivesse sobrevivido aos serviços de saúde. Estrangeiro, sem padrinhos ou conhecidos foi recusado em três hospitais antes de ser aceite num…

Com a subida em direcção ao Lussusso voltou o verde, mais fresco que o da planície mas sem a exuberância do verde das outras montanhas e sem a presença das árvores de grande porte. Reapareceu sim a humidade e o sol despediu-se. Ainda não eram 9 horas da manhã e a luminosidade permitida pelas nuvens negras que se avistavam lá em cima e ao longe, mergulhou-me num crepúsculo prematuro e prolongado!! Muita chuva lá no alto, chuva que me acompanhou durante todo o trajecto de picada que ainda tive que fazer até casa/fazenda. E conduzir em picada com chuva não permite olhar a paisagem para a poder descrever…




4 comentários:

Seagul disse...

Como era aquele "reclame" ?

É um artista português e só (não) usa pasta medicinal Couto...:):):)
Está bem bonito.
Beijinhos pró artista.
Gina

Unknown disse...

Minha terra é linda...

Beijossssssss

Lusbelo disse...

((*_*))

Acho que esqueceste as aspas na palavra (artista)...

Beijo

Lusbelo disse...

;-))

Tua terra? Eu não saí do Libolo... Parece-me que a tua é mais a Sul e mais lá para cima. Também é bonita e gosto muito.

Beijo