sábado, 19 de julho de 2008

A Viagem

Viagem

13-07-2008

A partida prevista para as 20h50m do dia 11 de Julho só aconteceu muito perto das 22H. Isto obrigou a uma correria pelos corredores do Aeroporto de Lisboa para não perder a ligação com o voo para Luanda. Ultrapassado este pequeno percalço inicial, a viagem decorreu sem outros incidentes. Durante sete horas, suspenso entre o céu e a terra e rodeado por mais 300 pessoas, apenas tive durante alguns minutos a companhia das personagens de um livro do Mia Couto. Mais se acentuou o sentimento de solidão quando a partir de uma certa altura verifiquei que já todos dormiam à minha volta, e as sete horas transformaram-se numa eternidade.

Às cinco e meia da madrugada, sem ninguém a ocupar o lugar a meu lado, e ainda com tudo a dormir, abri a vigia e reparei que uma ténue luminosidade aparecia no horizonte. Tive então direito a um espectáculo exclusivo. O aumento progressivo da luminosidade foi apagando as estrelas que ainda se mostravam e o negro do céu foi-se transformando em azul. O sol que se anunciava pintou de cores quentes e vivas as nuvens próximas do horizonte e mostrou aos poucos o manto contínuo de nuvens brancas por baixo do avião. Por fim mostrou-se em todo o seu esplendor durante alguns minutos, e quando pouco depois o avião começou a descida para o Aeroporto de Luanda, o Sol fez-nos companhia na descida até se esconder novamente no horizonte, vindo a reaparecer novamente depois de já estarmos em terra. Não pude assistir ao novo nascer do Sol por já estar dentro do edifício do aeroporto o que me desgostou. Poderia ter assistido a dois nascer e um pôr-do-sol em menos uma hora.

Depois foram as formalidades habituais, desta vez correram bem, e ir directamente para o trânsito já caótico de Luanda às 8h da manhã de um sábado, 12 de Julho de 2008. Uma ida à “lota” comprar peixe para levar para a fazenda, comer qualquer coisa, nada de leites e bolos, bife completo por volta das 9h30m, mais compras de mantimentos para alimentar mais de cem pessoas durante 15 dias, e pé na estrada para mais trezentos e oitenta quilómetros de estrada asfaltada até Calulo. Mais uma paragem no Zenza para almoçar. Na verdade foi apenas para comprar cerveja fresca para acompanhar as sandes que já levávamos de Luanda. É quase impossível encontrar algum sítio na estrada que venda comida, apenas bebida, bebida, bebida…

Chegada a Calulo pelas 17h30. Mais uma paragem para descarregar algumas coisas e jantar antes de partir para a fazenda. Não se conseguiu avisar a que horas chegávamos e não quisemos arriscar chegar e não ter jantar. Depois de jantar, mais 45Km de picada até à fazenda onde fomos encontrar quem lá estava ainda a comer e com jantar pronto para nós. Já não voltamos a comer… Um banho de chuveiro com água quente, banalidade na Europa mas um luxo aqui onde na própria vila é difícil de conseguir, e nem o barulho do gerador a trabalhar a 20 metros da casa impediu que adormecesse profundamente.

O Local

Depois de 9 meses de ausência, as más condições de alojamento deixadas na altura, tornaram-se péssimas. A empresa mudou-se de “armas e bagagens” para uma nova área de intervenção e tudo ainda está por arrumar. Tudo está improviso de tal modo que até para mim, conhecedor desta realidade foi um choque. Para alguém habituado à vida na Europa, é inconcebível conseguir viver assim, mas por cá e aqui no interior, onde a Guerra andou em força e as pessoas lutaram durante anos e anos apenas pela sobrevivência do dia a dia, estamos no paraíso…

(Continua…)

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