sexta-feira, 13 de março de 2009

A Viagem

Dezanove horas depois do início da viagem o avião parece sobrevoar o paraíso. O pôr do Sol incendeia as águas do Oceano, polvilhado de ilhas e navios preguiçosamente à espera de vez de entrar no porto, com as suas cores quentes. Mas quando nos aproximamos do solo e vamos pouco a pouco conseguindo vislumbrar os milhares de habitações precárias que cobrem toda a área por baixo de nós, mergulhadas num caos urbanístico difícil de descrever, começamos a desconfiar que aquela visão paradisíaca não passe de uma ilusão…

A aterragem perfeita do 747 das Linhas Aéreas da África do Sul que nos transportou leva-nos à confirmação das suspeitas. Ao sair do avião um dos passageiros não suportou o choque proporcionado pelos mais de trinta graus de temperatura, associados a um teor de humidade doar a rondar os 90%. Desfaleceu e teve que receber assistência médica. Devido a deficiências na rede de telemóveis, apenas três quartos de hora depois da aterragem foi possível fazer o primeiro contacto telefónico. Numa sala com a temperatura vários graus a cima da temperatura ambiente do exterior e já com toda a gente a destilar, consegui falar por telefone com a pessoa que me vinha buscar. Estava ainda a duzentos quilómetros e à procura de gasóleo para prosseguir a viagem até Luanda. Esgotado nas bombas, só a candonga poderia resolver o problema. Entre encontrar o gasóleo, fazer os duzentos kilómetros e vencer o engarrafamento crónico em que Luanda está transformada quase 24 horas por dia, foram mais três horas de espera com duas opções… ou sentado na sala do desembarque das bagagens mergulhado em suor e 40º de temperatura, ou cá fora de pé onde a temperatura se tornou bem mais suportável com o cair da noite. Para quem tinha acabado de fazer uma viagem de 7 horas sentado, a decisão não foi difícil tomar… mas foi difícil de suportar.

Às 22 horas chegou a minha boleia. Depois de uma paragem num restaurante para eu comer um bitoque com um bife tipo borracha, e o meu companheiro devolver uma omeleta intragável por excesso de sal, metemo-nos à estrada pelas 23:30 horas. Mais três horas a enfrentar corajosamente os máximos nunca baixados ou os faróis completamente desalinhados dos automóveis que se cruzaram connosco, e estávamos em casa. Cansados mas inteiros…

Tentei enviar um SMS mas a rede estava off… no dia seguinte ao acordar a rede continuava off, agora acompanhada pela energia eléctrica que também falhou. Quarta feira não houve alterações e quinta até à hora a que saí para o interior tudo continuava na mesma. Hoje é sexta, muito em breve vou para a vila e apesar de tudo conto conseguir publicar este post… o optimismo é uma grande mais valia dos angolanos. J

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