sábado, 17 de janeiro de 2009

Um Serão à Fogueira

Chegaram de longe. Quase 200Km mais para o interior, de onde além de alguns campos de milho e de feijão para consumo próprio e algumas bananeiras para o fabrico de capuca pouco mais há. O tio e mais dois já com alguns anos e os dois sobrinhos com cara e corpo de criança queriam emprego. Alguém que já cá trabalhou indicou-lhes onde poderiam encontrar emprego com comida e algum dinheiro ao fim do mês.

Aceitar o homem e dispensar os miúdos, via-se que tinham menos dos dezasseis anos permitidos por lei para trabalhar mas eles afirmavam que os tinham, estava fora de questão. Vieram em pacote e teriam de ser aceites ou rejeitados em pacote. Sabíamos que caso fossem rejeitados o destino talvez fosse regressar a casa , e agora sem os meios que entretanto tinham sido gastos na viagem. Foram integrados na força de trabalho. O adulto no trabalho normal e as crianças no serviço de apoio à nossa cozinheira São sobrecarregada de trabalho.

Os dias passaram, os miúdos adaptaram-se bem a um mundo totalmente desconhecido de pratos de sopa, pratos pratos rasos, copos para água, copos para vinho, canecas para café, etc, etc, uma cnfusão de todo o tamanho para quem até agora sempre comeu com a mão, e apenas tinha um prato e uma caneca de esmalte que serviam para tudo.

Com os dias a passar ganharam confiança e me apanhei com os dois sentados à fogueira depois de jantar perguntei ao que me parecia mais novo.
-Dezasseis anos-foi a resposta pronta.
-Isso foi o que te mandaram dizer, deves ter treze...
-Tem catorze, disse o outro depois de momentos de silêncio comprometedor.
-E tu, quantos anos tens?
-Eu tenho 15!
-Estudaste?-Dirigi-me novamente ao mais novo.
-Tenho a terceira.
-Tens que estudar mais, a terceira é muito pouco.
-Não tenho cédula. Venho ganhar dinheiro para comprar a cédula!
-Quanto custa a cédula?
-Quatro mil Kuanzas... (Metade do salário mínimo)
-O teu pai não tem dinheiro para comprar a cédula?
Baixou a cabeça e fez um silêncio prolongado...
-O pai dele foi embora no tempo da guerra e não voltou-respondeu o primo...

1 comentário:

Seagul disse...

Quando não se sabe o que se há-de dizer ou a emoção embarga as palavras usa dizer-se: "No comment"...
Beijo.
Gina