Impressiona a morte lenta da
aldeia deserta de crianças. Impressiona também a dimensão da hipocrisia humana,
publicitada nas luzes de néon visíveis do lado de cá da fronteira e
pertencentes às casas de “meninas” brasileiras, expulsas de Chaves para o lado
de lá, de onde publicitam para o lado de cá. Mas impressiona mais que tudo,
sentir o silêncio que domina tudo. Depois de alguma hesitação decidi pelo que
mais me marcou… o silêncio!
Nas noites da cidade o dia
nunca morre por completo. Aqui apenas o eco do silêncio nos faz companhia e já
com o candeeiro apagado, a casa e tudo com ela, parece flutuar num espaço
intemporal. Inundado de uma paz irreal, fecho os olhos e o sono
lentamente toma conta do meu cansaço e transporta-me ao alvorecer de outro dia.
O canto melodioso do
amanhecer das aves transporta-me com suavidade do sono para a quietude de uma
manhã de Domingo numa aldeia transmontana. Nas encostas das colinas que se
estendem no horizonte mostram-se à luz ténue da manhã, aqui e além, casas isoladas
numa paisagem parada como uma fotografia, sensação apenas desmentida pelo
preguiçoso acordar das colunas de fumo que se desprendem das chaminés
vigilantes, a assinalar a presença de vida dentro delas. Ainda sem a presença
do vento prometido para a tarde, é permitido ao fumo das chaminés erguer-se em
altas colunas brancas, divertindo-se na tentativa de tocar o céu. Tudo se
encaixa com a perfeição de uma orquestra afinada de silêncios.